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Bolsonaro na embaixada da Hungria: quais são os vĂ­nculos do ex-presidente com Viktor OrbĂĄn

Jair Bolsonaro e Viktor OrbĂĄn mantĂȘm uma relação próxima, movida principalmente por ideais conservadores compartilhados.

Por BBC News/Correio Braziliense em 26/03/2024 às 11:08:15
Orbán cumprimenta Bolsonaro durante posse do ex-presidente em Brasília - (crédito: Marcos Corrêa/PR)

Orbán cumprimenta Bolsonaro durante posse do ex-presidente em Brasília - (crédito: Marcos Corrêa/PR)

Após ter sido alvo de uma operação da PolĂ­cia Federal (PF) sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou dois dias na embaixada da Hungria, em BrasĂ­lia, segundo informações do jornal americano The New York Times (NYT).

VĂ­deos publicados na segunda-feira (25/03) pelo NYT mostram momentos da estada do ex-presidente na embaixada entre 12 e 14 de fevereiro. Segundo o jornal, Bolsonaro parecia ter a intenção de pedir asilo polĂ­tico ao governo hĂșngaro.

A defesa do ex-presidente divulgou uma nota confirmando a estada e afirmando que a presença de Bolsonaro na embaixada foi para "manter contatos com autoridades do paĂ­s amigo".

Bolsonaro e Viktor OrbĂĄn, o primeiro-ministro da Hungria, mantĂȘm uma relação de proximidade hĂĄ anos.

Os dois se encontraram pessoalmente em pelo menos trĂȘs ocasiões e trocaram elogios e sinais de camaradagem pelas redes sociais em diversos outros momentos.

Embora o Brasil não tenha grandes fluxos migratórios ou parceria econômica com a Hungria, Bolsonaro cultivou durante seu governo uma relação próxima com o primeiro-ministro hĂșngaro de direita, Viktor OrbĂĄn, explica o cientista polĂ­tico Dawisson Belém Lopes, professor de polĂ­tica internacional e comparativa na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

"Essa relação estava baseada no compartilhamento de uma visão de mundo lastreada por autoritarismo e religiosidade", diz Belém Lopes.

'Irmão' e 'herói'

O premiĂȘ hĂșngaro foi um dos dois lĂ­deres europeus a confirmar presença para posse de Bolsonaro, em janeiro de 2019.

Em abril daquele ano, OrbĂĄn recebeu Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PL e filho de Jair Bolsonaro, em Budapeste.

O próprio ex-presidente planejava uma visita à Hungria em 2020, mas por conta da pandemia de covid-19 a viagem só seria concretizada em 2022.

Na ocasião, os dois lĂ­deres assinaram memorandos de entendimento nas ĂĄreas de defesa, cooperação humanitĂĄria e gestão de recursos hĂ­dricos, e trocaram elogios.

"Acredito na Hungria, acredito no prezado OrbĂĄn, que eu trato praticamente como um irmão, dadas as afinidades que nós temos na defesa dos nossos povos e na integração dos mesmos", disse Bolsonaro após uma reunião com o aliado.

O ex-presidente também saudou o que disse ser uma consonância de valores representados pelas duas nações, resumidos, segundo ele, em "Deus, pĂĄtria, famĂ­lia e liberdade".

"Comungamos também da defesa da famĂ­lia com muita ĂȘnfase. Uma famĂ­lia bem estruturada ela faz com que a sua respectiva sociedade seja sadia. Não devemos perder esse foco", disse Bolsonaro.

Durante as eleições presidenciais de 2022, OrbĂĄn retribuiu os elogios ao apoiar a campanha de Bolsonaro.

Em um vĂ­deo compartilhado pelo ex-presidente em suas redes sociais, o premiĂȘ hĂșngaro exaltou algumas das polĂ­ticas de seu então colega governante.

"Tenho servido meu paĂ­s na Europa por mais de trinta anos, jĂĄ encontrei muitos lĂ­deres, mas vi poucos lĂ­deres tão excepcionais como seu presidente, o presidente Bolsonaro. Fico feliz de ter tido a oportunidade de trabalhar com ele. Foi uma grande honra ter visto e aprendido como ele reduziu impostos, estabilizou a economia, reduziu as taxas de crimes", disse o hĂșngaro na mensagem. "Espero que ele possa continuar seu trabalho."

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o governo da Hungria também teria oferecido ajuda para reeleger Bolsonaro.

De acordo com documentos obtidos pela reportagem, em julho de 2022, em plena campanha, o chanceler hĂșngaro, Péter SzijjĂĄrtó, teria conversado com a então ministra da Mulher, da FamĂ­lia e dos Direitos Humanos, Cristiane Britto, em Londres, e perguntado "se haveria algo que o governo hĂșngaro poderia fazer para ajudar na reeleição do presidente Bolsonaro".

Mais recentemente, Bolsonaro e OrbĂĄn se encontraram na Argentina, durante a posse do presidente Javier Milei em dezembro de 2023.

Os dois tiveram uma reunião privada e, em uma rĂĄpida declaração, o hĂșngaro afirmou que Brasil e Hungria estão mais distantes, mas o futebol e a polĂ­tica ainda unem os dois paĂ­ses.

OrbĂĄn ainda chamou Bolsonaro de "herói".

"Temos muita coisa em comum, mas ele é muito mais bonito do que eu", brincou o ex-presidente.

No mesmo dia da operação da PF contra Bolsonaro —e dias antes de o ex-presidente passar as duas noites na embaixada da Hungria—, OrbĂĄn utilizou as redes sociais para declarar apoio ao aliado.

"Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente", escreveu o lĂ­der hĂșngaro.

Quem é Viktor OrbĂĄn?

OrbĂĄn estĂĄ no poder desde 2010 e, segundo o Parlamento Europeu, comanda um "regime hĂ­brido de autocracia eleitoral".

Ele foi reeleito em 2014, 2018 e 2022 e é o lĂ­der hĂĄ mais tempo no governo entre os paĂ­ses da União Europeia atualmente.

Classificado por muitos como direita radical, OrbĂĄn parece não saber como descrever a sua própria posição, investindo tanto no que chama de "democracia iliberal" como na "liberdade cristã".

Desde que chegou ao poder, ele passou a acumular poderes com uma guinada autoritĂĄria que começou no JudiciĂĄrio e no Legislativo, e avançou para a imprensa.

Em pouco mais de uma década, OrbĂĄn trocou centenas de juĂ­zes das cortes hĂșngaras por aliados, alterou a lei eleitoral e, como o apoio de grupos econômicos aliados, praticamente acabou com vozes crĂ­ticas na imprensa hĂșngara.

O presidente brasileiro não é o Ășnico a fazer acenos ao polĂȘmico primeiro-ministro. O avanço do autoritarismo na Hungria fez de OrbĂĄn uma inspiração para a lĂ­deres de direita em outros paĂ­ses, como a Polônia.

Durante anos, a retórica e as polĂ­ticas anti-imigração foram a marca da polĂ­tica externa de Viktor OrbĂĄn. Ele também se apresenta como um protetor dos valores cristãos contra a "ideologia de gĂȘnero e LGBT" e o liberalismo ocidental.

Nos Ășltimos 12 anos, o governo hĂșngaro redefiniu o casamento como a união entre homem e mulher na Constituição e limitou a adoção para homossexuais e os direitos dos transexuais.

Por suas ações, entrou em conflito com outros lĂ­deres da União Europeia (UE) e foi criticado no Parlamento Europeu.

Mais recentemente, o lĂ­der hĂșngaro, que é o aliado mais próximo do russo Vladimir Putin na UE, foi alvo de crĂ­ticas por bloquear temporariamente uma ajuda europeia à Ucrânia de 50 bilhões de euros (R$ 269 bilhões).

O veto aconteceu depois que governantes da União Europeia ignorarem a sua recusa em iniciar negociações para a adesão de Kiev ao bloco. Por fim, o fundo foi aprovado no inĂ­cio de fevereiro.

Fonte: Correio Braziliense

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